Uma questão animal

Luciana, vulgo Lucas, perdeu seu chaveiro de lhama.

No whatsapp da familia.

Seu Vicente:

– Alô, Lucas, encontrei um molho de chaves com uma avestruz. São quatro chaves. Seriam essas que você procura?

Dona Getro:

– Que avestruz?! É uma ilhana.

Dando nome aos bois

Para o Seu Vicente, bovinos são como animais de estimação. Todos têm nome e atendem pelo nome.

Tem a Maravilha, a Esmeralda, o Ramiro, a Boa Vista, a Áurea, o Branquinho, a Bambina …

Outro dia nasceu uma bezerra. Minha mãe, que não se contenta em ficar só com seus cachorros, “batizou” o filhote de Amora.

Seu Vicente já advertiu, que se o próximo for macho, é ele quem vai escolher o nome e ai dela se ousar interferir.

Morango, o escolhido.

Bravíssimo!

O título da entrevista da Marisa Monte para revista Bravo! era “Não sou Cult” . Seu Vicente que folheava a revista me perguntou:

– O que é cult?

– Ah… é aquilo que não é popular… sabe? Uma coisa mais desconhecida, que tem a ver com cultura…

Ele folheou a revista por mais um tempo e disse:

– Essa revista é cult, né?

Em treinamento

Outro dia estava na casa dos meus pais e o Seu Vicente bem interessado em aprender a usar internet no celular. Um desejo audacioso, eu diria, já que ele ainda engatinha na internet, no PC e no manuseio do celular. De repente, eu compenetrada no computador do escritório, ele na cozinha (10 passos de distância) quando chega uma mensagem no meu celular: “em treinamento. Abrs. Vicente”. E aí, já podemos passá-lo pro nível 2?

Mensagens de texto

Ah teconologia… por que tão inventiva e perecível? Por que complicar a vida de um senhor tão singelo como Seu Vicente? A bola quadrada da vez são as mensagens de texto de celular. Seu Vicente adora receber SMS e gosta de responder também, porque acha chique, moderno. E sempre assina seu nome, mesmo que minha mãe já tenha lhe dito várias vezes não precisa, o nome já aparece. Mas Seu Vicente é homem de etiqueta. E reza a etiqueta que mensagem tem que ser assinada, até telegrama é, uai? Pra que contrariá-lo, deixe que ele assine. É tão gostoso ler abraços Vicente.

Ps: Ele também não abrevia.

Seu Vicente e a “música de jovem”

Sabadão seguido de almoço na casa dos meus pais, resulta em sofá com televisão. Estava passando o show do Jamiroquai no Rock in Rio. Parei pra ver. Seu Vicente que adora ficar perto de mim, foi logo sentando no sofá.

Olhei pro lado e ele dançava com a cabeça e fazia uma cara engraçada. Você gosta, papai? – perguntei. Gostar não, mas parece com a música que toca na minha hidroginástica.

….

Seu Vicente adora um durex e papel. Munido dessas armas ele cataloga tudo. Em seu escritório estantes de livros, pastas de documentos, fotos e cartas estão todas identificadas com aquela letrinha inconfundível.

Havia uma pilha de cds abandonados lá em casa. Aí, pra passar o tempo, ele resolveu verificar se os ditos cujos estavam funcionando (válidos) ou não (lixo).

Eis que encontro no meu quarto uma capinha de cd feita manualmente de um flyer de restaurante chinês. Fiquei curiosa com aquilo. Era um cd meu de música nórdica eletrônica. Lá estava o durex que colava a classificação do meu pai: válido, mas desagradável.

Olho por olho, cabelo por cabelo.

Outro dia cheguei à casa dos meus pais repaginada, de cabelo curto, descabelada e na moda, com ares de modernidade, mudança, me olhava no espelho e me surpreendia!

Meu pai me viu, conversamos sobre qualquer coisa, sobre outras coisas, quando perguntei, meio indignada:

-Senhor, não notou que cortei o cabelo?

-Uai, você notou que cortei o meu?

Jogo de cintura

Aqui em Minas temos 3 times mais relevantes: América, Atlético e Cruzeiro (em ordem alfabética pra não dar briga). Meu pai é americano, eu, atleticana.

No domingo haveria um clássico: Galo X Cruzeiro. Seu Vicente entrou num bolão e apostou 1 X 0 para o Cruzeiro.

Aquilo me deu uma raiva!

–       Credo, papai! Torcendo pro Cruzeiro?

Com a voz mais doce do mundo ele respondeu:

–       Ô minha filha, tô torcendo mesmo é pro Galo, eu só quero o dinheiro.

O trabalho intelectual dignifica o Seu Vicente.

Desde que meu pai se aposentou, minha mãe, dona Gertrudes, passou a explorar todo o tempo livre dele. Seu Vicente faz de tudo: arruma a cozinha, compras de supermercado, sacolão, serviço de banco, motorista, office boy e o que mais a mente imperativa da minha mãe desejar.

Assim se criou a GED (Getro* Empreendimentos Domésticos), e meu pai é o único membro e faz-tudo da empresa. Dona Getro fica uma fera quando falamos da GED. Ela diz que foi o médico que a pediu para ocupar meu pai de tarefas. Se são ordens médicas, a gente respeita, né?

Seu Vicente, um funcionário exemplar do trabalho involuntário-não-assalariado, diz que nunca ralou tanto na vida. Minha irmã vendo o potencial intelectual de Vivi desperdiçado arrumou outro trabalho pra ele: traduzir provérbios do espanhol para o português.

Hoje telefonei para ele e perguntei onde estava. Em uma loja, respondeu.

– Trabalhando? –perguntei com ares de deboche me referindo a GED.

– Não. Agora trabalho em casa com tradução.

* Apelido carinhoso da minha mãe.

O importante é vencer

Seu Vicente, sobre o seu time de coração:

– O América perdeu de novo… Ele tava indo tão bem na segunda divisão. Agora que passou pra primeira, só perde. Podia ter continuado na segunda…